Ágora nº11 - Flipbook - Page 46
SECÇÃO
TV
JOANA CORDEIRO
EVERYTHING,
EVERYWHERE,
ALL AT ONCE
“Nothing matters.” É o mote que nos faz amar
perdidamente, que nos faz tomar decisões
impulsivas, arriscar. Em vez da conotação negativa
que esta frase poderá muitas vezes ter, a
interpretação que “Everything, Everywhere, All at
Once” faz proporciona-nos a fé de que nada
importa a não ser o presente, as pessoas e o que
nos é mais querido. Na verdade, mostra-nos que
nothing else matters.
Everything Everywhere All at Once (2022). via IMDb.
Este filme arrebata-nos com a nossa pequenez no “meio disto tudo”. Aniquila todo o
niilismo da velha guarda que desespera por não saber o sentido da vida. Tudo é possível e
isso deve ser libertador. Devemos mergulhar nesse mar de possibilidades, rir da
aleatoriedade da vida e do acaso. A escolha que faço hoje não interessa, se falhar não
interessa, se fizerem pouco de mim não interessa, se o sonho não se realizar não interessa.
Porque seguimos sempre em frente. O que interessa são as pessoas que amamos e que nos
acompanham nesta vida de eventualidades. O que interessa é nutrir as relações que fazem
sentido e o que nos dá prazer. Penso que esta seja parte da reflexão que o filme tenta
semear nas mentes dos espetadores.
Para além disto, este filme multifacetado é também uma prova de que a criatividade
não morreu no cinema. É sempre possível inovar e criar algo novo e
verdadeiramente extraordinário. Não é por ter mais ação ou surrealismo que o filme
é menos profundo ou inteligente. Muito pelo contrário, aplaudo Daniel Kwan e
Daniel Scheinert, argumentistas e realizadores, pela mestria, e também Michelle
Yeoh, Stephanie Hsu e Ke Huy Quan pelas performances surpreendentes que deram
vida às personagens desta viagem em modo de filme.
ANO DE LANÇAMENTO
CLASSIFICAÇÃO IMDB
2022
7.8 / 10
46
ÁGORA | JUNHO