Ágora nº11 - Flipbook - Page 36
NOTES FROM
A WORRIED
MILLENNIAL
MÁRIO DE PINTO
BALSEMÃO
Com os pés assentes na nossa Terra, é muito difícil viver num
contexto de alterações climáticas e argumentar que o aumento da
nossa capacidade instalada é fulcral para o desenvolvimento da
civilização, sobretudo sabendo que a maior fatia desse aumento
terá provavelmente origem em fontes fósseis, apesar dos repetidos
recordes anuais de energia com fontes renováveis. Da mesma
forma, é difícil não concordar com perspetivas “malthusiastas”
quando cada português consome em média diária 3480
quilocalorias. Pode ser que o nosso elevado apetite energético
tenha comprometido a nossa sustentabilidade, pode ser uma lição
comum a todas as civilizações e pode ser que praticar, em curtoprazo, as lições de Thomas Malthus venha a ser absolutamente
necessário, pelo menos no que à energia diz respeito.
Amanhã ou no dia que conquistarmos o sistema solar, a nossa
civilização irá esbarrar com o limite malthusiano e o
desenvolvimento sustentável passará de objetivo a oxímoro. É
fundamental procurar adiar essa data. E, quando no nosso percurso
a humanidade encontrar a derradeira bifurcação entre a tirania da
sustentabilidade e a inevitavelmente insustentável expansão da nossa ambição, ambas
eventualmente partilhando o mesmo fado final, o 0 da escala de Kardashev, o caminho a
escolher é o da curiosidade e da descoberta, da imaginação e consequente inovação, da
tentativa e do falhanço, porque nenhuma criança aceita permanecer no seu berço ou,
eventualmente consciente da sua inevitável mortalidade, opta por ao berço regressar
numa vã derrota da experiência da vida. Se a história irá inevitavelmente terminar no 0,
porque não arriscar atingir o 1, ou até mais, sem nunca olvidar os avisos de Malthus, antes
do ponto final?
Nisto, pelo menos, os 3 devem concordar, provavelmente brindando aos frutos da heroica
tentativa por parte das leveduras para os “vencer”.
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