Ágora nº11 - Flipbook - Page 35
MÁRIO DE PINTO
BALSEMÃO
NOTES FROM
A WORRIED
MILLENNIAL
Estando os três cavalheiros reunidos, primeiro são farejadas as diferenças.
Provavelmente Thomas Malthus, um clérigo economista algo pessimista,
ficaria perturbado ao ver Nikolai Kardashev saltar as suas armadilhas e
controlos populacionais para categorizar civilizações em escalas galácticas
usando como principal suposição a existência de supercivilizações e a
possibilidade de nos tornarmos uma delas. Pior ainda, Freeman Dyson de
certo modo entusiasta das alterações climáticas (ninguém é perfeito),
chocaria de frente com a perspetiva de Thomas Malthus, que poderia até
retocar as suas ideias para considerar impactes ambientais negativos
resultantes de crescimentos populacionais descontrolados uma forma
indireta de catástrofe malthusiana.
De qualquer modo, fluxos de cerveja artesanal inevitavelmente diminuem
inibições, facilitando a observação de características comuns. Os três
procuraram compreender os limites das expansões de populações e se
Dyson e Kardashev escolheram a evolução energética como fator
limitante definitivo, Thomas Malthus também, apesar da inexistência do
conceito de caloria. E se, em 1964, Kardashev não considerou as ideias de
Malthus, em 1997 já pondera catástrofes sociais como possível explicação
para a aparente ausência total de camaradas extraterrestres [7]. Também
Dyson, ao descrever o seu conceito de biosfera artificial envolvendo o Sol,
mencionou pressões malthusianas como motivador universal à expansão
de uma civilização, argumentando que uns milénios após o início de uma
revolução industrial qualquer civilização deverá inevitavelmente
apropriar-se totalmente da sua estrela.
7 - Kardashev, N. S. (1997).
Cosmology and Civilizations.
Astrophysics and Space Science,
252(1/2), 25–40.
8 - Krugman, P. (2010). The
Theory of Interstellar Trade.
Economic Inquiry, 48(4), 1119–
1123. https://doi.org/10.1111/j.14657295.2009.00225.x
Assim, é também inevitável que os três juntos procurem
calcular quantos humanos o sistema solar consegue
suportar. Partindo da potência do Sol, assumindo total
utilização dessa capacidade instalada ao longo de um dia,
escolhendo um parâmetro para a conversão dessa energia
em quilocalorias destinadas especificamente à nossa espécie
e assumindo um consumo médio de 2500 quilocalorias por
pessoa, é obtido um x que invariavelmente dá razão a
Malthus. A partir desse número é difícil imaginar como evitar
as armadilhas de Malthus, e mesmo que se ambicione uma
civilização de tipo III, a logística do comércio interestelar é
suficiente para afastar, pelo menos por agora, quaisquer
especulações [8].
JUNHO | ÁGORA
35