Ágora nº11 - Flipbook - Page 34
NOTES FROM
A WORRIED
MILLENNIAL
MÁRIO DE PINTO
BALSEMÃO
Curiosamente, no mesmo estudo, Kardashev prenunciou que a
nossa civilização, atualmente classificada como civilização do
tipo 0,73 de acordo com um mecanismo logarítmico de interpolação
proposto por Carl Sagan, irá atingir o tipo II nos anos 60 do século LII…
Mais relevante do que o quando é o como e aí entra Freeman Dyson
que introduz, nesta cervejaria, as suas esferas. Em Search for Artificial
Stellar Sources of Infrared Radiation, publicado 4 anos antes de
Kardashev categorizar civilizações de acordo com as suas potências,
Dyson propõe procurar civilizações extraterrestres em objetos de
escala estelar “invisíveis” com temperaturas entre os 200 a 300 kelvin
e a emitir radiação infravermelha (à volta dos 10 micrómetros) [5].
Como bónus, descreve também desmantelar Júpiter e utilizar a sua
massa para cobrir o Sol com uma biosfera artificial, capturando toda a
energia solar como dividendo da estelar empreitada e, atingindo
assim, uma civilização do tipo II através de uma esfera de Dyson.
Tal como Kardashev, Dyson também prenuncia cerca de 3000 anos
até atingirmos massa crítica para a empreitada em questão,
assumindo um crescimento médio anual de 1%. Pegando no
consumo anual global de energia e abusando outra vez da
omnisciência de viver no futuro, a hipótese de Dyson sobrevive e
ultrapassa o teste: de 1960 até 2021 o consumo energético da nossa
civilização cresceu, em média anual composta, 2% [6]! Mantendo este
ritmo, daqui a 13 séculos a gentrificação turística da Europa será
permanentemente interrompida porque o sistema Joviano estará
fechado para obras.
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ÁGORA | JUNHO
5 - Dyson, F. J. (1960). Search for Artificial Stellar Sources of Infrared Radiation. Science, 131(3414),
1667–1668.
6 - Hannah Ritchie, Max Roser and Pablo Rosado (2022) - "Energy". Published online at
OurWorldInData.org. Retrieved from: 'https://ourworldindata.org/energy'