Federação Nacional dos Médicos - Flipbook - 5
µ 05 | FNAMZINE | setembro 2024
Sindicato dos Médicos da Zona Sul
Tempos difíceis,
tempos de esperança
...estes têm que ser tempos de esperança, de reafirmação
de princípios e defesa das nossas reivindicações, que sabemos serem
convergentes com os das pessoas que a nós confiam as suas vidas.
Pela saúde dos nossos filhos, pela nossa Saúde
PAULO ANDRE
VICE-PRESIDENTE DO SMZS
A Saúde dos nossos filhos, começando
pela sua garantia através de uma gravidez vigiada e de um parto seguro, é dos
maiores, se não o maior bem que possuímos. O ataque lançado contra o Serviço
Nacional de Saúde (SNS), desde as fases
mais precoces da sua conceção e implementação, tornou-se desenfreado, assumindo mesmo contornos criminosos,
chegando ao ponto de pôr em risco e
comprometer a saúde e a vida das nossas
grávidas e dos nossos filhos, de atentar
contra a vida de todos nós, ao negar o
acesso, fácil e urgente, a cuidados diferenciados de saúde.
Tal crime é praticado quando se destroem serviços, as unidades de saúde e
as carreiras profissionais, entre as quais
se destacam as carreiras médicas. É
cometido através da desagregação da
prática médica e conspirando, em permanência, para retirar aos médicos as
prerrogativas que lhes devem caber, evidentemente, na governação da promoção da saúde e do combate à doença.
É gritante, do lado dos senhores do dinheiro que têm patrocinado os vários governos, o apetite voraz com que se digladiam para construir e gerir o negócio da
doença, sobre as ruínas da nossa civilização. Para isso atacam e debilitam o SNS.
Para isso deixam milhões de portugueses, incluindo crianças e mulheres grávidas, sem reais e eficazes alternativas de
cuidados de saúde, já que as apresentadas estão longe, no mapa e no poder de
compra da população. Logo lhes servem
“alternativas”, naturalmente geradoras
de lucro. Basta identificar um serviço
público que esteja sob a mira do desinvestimento da tutela, com esvaziamento
ou encerramento de valências e serviços,
para perceber onde, a curto prazo, nascerão novos e dirigidos investimentos
privados que são a causa, e não a consequência, do ataque e esvaziamento do
serviço público.
“Um verdadeiro retrocesso civilizacional que não tem poupado alguns dos
melhores de entre nós”
Os médicos são usados como instrumentos desta estratégia. Seduzidos com
promessas de vencimentos mais altos
ou melhores condições de trabalho, desiludidos pela destruição dos serviços
públicos e negação da progressão na
carreira, ou sinceramente empenhados
em atrativas propostas de projetos, em
grande número têm passado para as instituições privadas, enfraquecendo o SNS
e a sua capacidade de resposta.
Muitos se têm arrependido, principalmente quando são envolvidos, nessas
instituições, em autênticos despedimentos coletivos, “vassouradas” que
chegam a dispensar equipas inteiras de
médicos diferenciados e competentes,
porque não atingiram os objetivos impostos ou… porque sim. Voltámos assim
aos famigerados “balões” da indústria
do século passado. Um verdadeiro re-
trocesso civilizacional que não tem
poupado alguns dos melhores de entre
nós, primum inter pares, indecentemente desrespeitados, vilipendiados por
alguns negociantes da doença que de
doença – e de saúde – nada sabem.
Quando se trata de denegrir os médicos,
têm surgido outros aliados e formado
“santas” alianças com o objetivo de ocupar cargos de decisão na governação das
unidades de saúde. Obviamente, nada de
bom resultará, na perspetiva do utente
dos serviços de saúde, se profissionais
promoverem a sua missão e objetivo
principal, a despromoção dos médicos e
a sua secundarização. Bem pelo contrário, a promoção da saúde e o combate à
doença são tarefas tão formidáveis que
nelas há espaço de sobra para todos os
profissionais – e mais terão que ser – que
queiram colocar os seus saberes e, decorrendo destes, assumir poderes promotores de sinergismos. Sempre ao serviço
das populações, seguindo o primado do
Utente e não do lucro. Os profissionais de
saúde devem assumir-se, na sua diversidade, como aliados no objetivo comum
de defesa e consolidação do SNS. É esse
o seu verdadeiro interesse.
Reconhecer a legitimidade
das reivindicações dos médicos
Tal como a primeira regra do socorro é
a garantia da segurança do socorrista,
a primeira regra na prestação de cuidados de saúde deverá ser o respeito por
condições dignas de trabalho dos profis-
sionais. No que aos Médicos diz respeito,
isto passa por salários dignos, claro, mas
não só. Reduzir as reivindicações médicas ao plano salarial é enganar as populações de forma voluntária e desonesta.
Os Médicos pretendem ver reconhecidos
direitos em matérias tão fundamentais
como a progressão nas carreiras; a organização e viabilização do funcionamento dos serviços e não só das Urgências; o
reconhecimento da penosidade e rápido
desgaste a que estão sujeitos; entre muitas outras.
Reconhecer a legitimidade das reivindicações dos médicos, veiculadas pelos
seus sindicatos, é contribuir de forma
decisiva para a viabilização do SNS e a
qualidade dos cuidados de saúde dos
portugueses.
Os Médicos, principalmente os jovens
Médicos, como grande número de cidadãos portugueses por diversas razões,
vivem tempos difíceis. Mas estes têm
que ser tempos de esperança, de reafirmação de princípios e defesa das nossas
reivindicações, que sabemos serem convergentes com os das pessoas que a nós
confiam as suas vidas.
Sozinhos, certamente seremos ignorados. Só em conjunto, organizados no
nosso Sindicato, o Sindicato dos Médicos da Zona Sul (e Regiões Autónomas)
/ Federação Nacional dos Médicos, valorizando essencialmente o que nos une,
poderemos ter a força necessária.
Como alguém disse, “para que o mal prevaleça, basta que os Homens bons não
façam nada”.
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