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Grandes Entrevistas
DEFENDER OS DIREITOS
DOS ENFERMEIROS
GUADALUPE SIMÕES,
Dirigente Sindical dos Enfermeiros Portugueses
Desde quando começou o seu envolvimento na atividade associativa e sindical?
Desde cedo. Sou enfermeira há 34 anos, com a
formação em Faro e Setúbal. Ainda na escola de
enfermagem, envolvi-me na implementação da
associação de estudantes, que não existia, e fui representante dos alunos no conselho diretivo. Em
1991, fui delegada do Sindicato dos Enfermeiros
Portugueses (SEP), ainda em Faro. Em 1992, passei a
dirigente regional no Algarve. A partir de 1996, 1997,
assumi funções nacionais, como vice-coordenadora do SEP, a par com o José Carlos Martins.
Sem dúvida. Como tem dito, e bem, a Presidente da
FNAM, os médicos, e os enfermeiros também, não
querem viver só para trabalhar, querem ter tempo
para as suas vidas. A conciliação da vida profissional com a pessoal passou a ser prioritária, já ninguém quer viver só para trabalhar. Esse choque geracional é muito evidente e tem que ser refletido
pelos sindicatos, para que possam adaptar as suas
respostas. Quem não o fizer vai perder o contacto
com as pessoas que representam. Os mais novos fazem uma pressão positiva nos mais velhos para que
estes ajustem o seu comportamento.
Foi testemunha privilegiada do que tem sido a trajetória do sindicalismo nas últimas décadas. Da
sua experiência, como analisa a propalada crise do
sindicalismo? Partilha desse diagnóstico?
Os sindicatos como motores de progresso da sociedade não estão em crise. As pessoas reconhecem
que os sindicatos são importantes, na perspetiva
de lutar por um futuro melhor. Houve uma alteração das dinâmicas sociais, particularmente no âmbito da Saúde. Desde a introdução e generalização
dos Contratos Individuais de Trabalho (CIT), notou-se uma maior divisão entre os trabalhadores, algo
que foi propositado nas intenções dos legisladores. Ao fragilizar o vínculo, a relação das pessoas,
entre pares e entre os sindicatos, alterou-se. A sensação de que a negociação individual é possível,
ainda que seja uma armadilha, enraizou-se. O individualismo, a partir desse momento, foi um fator
crescente de divisão. Com esse fenómeno, os
trabalhadores passaram a olhar para os sindicatos como prestadores de serviços, quando
precisam de advogado ou outro serviço dos
enfermeiros de apoio. Neste momento,
praticamente metade está com CIT, e outra metade em funções públicas.
E do ponto de vista laboral, como está a situação
dos enfermeiros?
Atualmente temos um horário de 35 horas por semana, com um período de aferição às 4 semanas,
findo o qual as 140 horas deviam estar lá certas.
Mas isto não conta as muitas outras horas, que acabamos por ser pressionados a fazer. Uns hospitais
pagam essas horas como trabalho extraordinário,
outros que dizem que só pagam 16 horas depois de
ultrapassadas as 140 horas, outros não contam o
tempo de passagem de turno a não ser por via da
bolsa de horas, que nem sequer deveria existir.
E as preocupações dos trabalhadores, mudaram também?
Tal como os médicos, os enfermeiros também têm
limite de horas extra por ano que podem fazer?
Sim, tal como os médicos e todos os trabalhadores,
a lei define limites máximos de trabalho extraordinário. No caso dos enfermeiros são 250 horas. Mas,
na verdade, o problema é que quem faz continuação de cuidados, em regime de turnos, como os enfermeiros, significa que se eu estiver a fazer manhã
e um colega do turno da tarde faltar tem que haver
um enfermeiro que continua o turno. Se o chefe de
serviço não conseguiu ninguém, um dos enfermeiros da escala anterior tem que continuar em trabalho extraordinário. Outro fator complexo é que o
regulamento do exercício da atividade profissional
dos enfermeiros diz que temos direito a substi-
Os médicos estão a lutar por condições
de trabalho para poderem servir
os utentes sem estarem exaustos.