Federação Nacional dos Médicos - Flipbook - 15
µ 15 | FNAMZINE | setembro 2024
Médicos - Internos
Só a luta unida e organizada
dos médicos e restantes profissionais
de saúde poderá fortalecer o SNS
O dia-a-dia de um médico interno no Serviço Nacional de Saúde (SNS) é repleto de uma miríade de diferentes desafios que denigrem o fundamental processo formativo que é o Internato Médico. O longo processo de desmantelamento
do SNS, marcado especialmente pela cada vez mais evidente incapacidade de
reter profissionais, reflecte-se pesadamente sobre nós.
A incapacidade das equipas médicas darem resposta às necessidades de saúde da população implica uma sobrecarga constante sobre os médicos internos,
seja ela sob a forma de mais horas de trabalho, consulta com listas de doentes
que atingem números absolutamente incomportáveis ou a constante realização de intermináveis horas suplementares em serviço de urgência que, assim,
se tornaram na prática real do trabalho diário em horas ordinárias de trabalho.
A brutal e contínua pressão a que estamos sujeitos marcam negativamente um
precioso e fundamental “processo de formação médica, teórica e prática, que
tem como objectivo habilitar o médico ao exercício da medicina” corrompendo o seu intuito principal – formativo – e substituindo-o pelo de mera mão-de-obra (relativamente barata, diga-se de passagem) a ser utilizada ao máximo para colmatar as insuficiências do SNS.
E assim se desvanece o tempo para o estudo, a investigação, o avançar
científico; e assim se desvanece a capacidade de conciliar o trabalho com
o resto da vida, ficando esta última constantemente em questão quando
fazer 40 horas de trabalho semanal parece um sonho distante e frequentemente se sobe às 50, 60, 70 e mais horas de trabalho.
Agravando ainda mais a situação, muito deste trabalho tende a ser realizado sobre insuficiente ou mesmo nenhuma supervisão contribuindo para uma sobrecarga que, para além de laboral, tem também uma profusa
conotação ética pela sua implicação na tomada de decisões que influenciam profundamente a vida dos utentes.
JOÃO MIRANDA
INTERNO DE PSIQUIATRIA, ULS DA ARRÁBIDA
E assim se desvanece o tempo para o estudo, a investigação, o avançar científico; e assim se desvanece a
capacidade de conciliar o trabalho com o resto da vida, ficando esta última constantemente em questão
quando fazer 40 horas de trabalho semanal parece um
sonho distante e frequentemente se sobe às 50, 60, 70
e mais horas de trabalho.
É desta forma que, neste desamparo actual que é a vida de médico interno,
se desenvolve a constante sobrecarga psicológica que leva tantos colegas a
secundarizarem o seu próprio estado de saúde, a interromperem temporariamente ou até mesmo desistirem do internato. Só a luta unida e organizada dos
médicos em defesa dos seus direitos poderá conquistar condições de trabalho
dignas para todos, médicos internos e especialistas.
Só a luta unida e organizada dos médicos e restantes profissionais de saúde
poderá fortalecer o SNS e permitir defender e alargar uma das suas fundamentais características embutida pelo ardente processo revolucionário de Abril
que tantos têm procurado atacar - o seu carácter universal.
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