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Médicos - Internos
“O trabalho que é realizado
por um médico deveria de ser feito
no mínimo por dois ou por três”
MARIA INÊS PINTO
INTERNA DE HEMATOLOGIA CLÍNICA,
ULS DE TRÁS OS MONTES E ALTO DOURO
Enquanto interna de Formação Específica na região de Trás-os-Montes e Alto Douro
portuguesa deparo-me todos os dias com as consequências da escassa execução
do orçamento previsto anualmente para o Serviço Nacional de Saúde.
Trata-se de uma região cuja Unidade Local de Saúde abrange diretamente cerca de
300.000 habitantes, tratando-se uma população predominantemente idosa, com
várias comorbilidades e, muitas das vezes, com a agravante de uma fragilidade social associada.
Perante tudo isto, o que sinto e observo nas equipas com quem trabalho é que o
que o garante o funcionamento do internamento, bem como o preenchimento das
escalas do Serviço de Urgência é a boa vontade e de dedicação dos profissionais de
saúde. De facto, o que acontece é que, na maioria das vezes, o trabalho que é realizado por um médico deveria de ser feito no mínimo por dois ou por três.
Enquanto médica interna, observo que os Assistentes
Hospitalares e médicos internos mais velhos estão
assoberbados em consultas para garantir que nenhum
cidadão fica sem acesso aos cuidados de saúde a que
têm direito.
Além disso, enquanto médica interna, observo que os Assistentes Hospitalares e
médicos internos mais velhos estão assoberbados em consultas para garantir que
nenhum cidadão fica sem acesso aos cuidados de saúde a que têm direito, porque
muitos dos seus colegas optaram por sair do SNS e os doentes não podem ficar sem
consultas.
Ter escolhido fazer a minha formação num Hospital do SNS causa-me uma variedade de sentimentos, entre os quais e mais exacerbado nos últimos tempos, o sofrimento ético, visto que, estou ciente que a população tem direito aos seus cuidados
de saúde de forma gratuita, mas que, por de trás da prestação desses cuidados estão médicos exaustos e mal remunerados.
Por trás desses cuidados estão médicos que também têm vida pessoal e familiar e
que também querem estudar para darem as melhores opções aos seus doentes e
que não conseguem. A vestir a bata branca e a orientar inúmeros doentes num internamento, está também um médico que idealizou honrar um serviço de Saúde
pautado pela igualdade, mas que assiste a um desinvestimento e uma degradação
cada vez mais aflitiva de uma das maiores conquistas do 25 de abril: o nosso SNS.
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